segunda-feira, 20 de outubro de 2014

PINHÃO NO PRATO, PINHEIRO DE PÉ

   Poucas décadas atrás, seria impensável que alguém pudesse fazer do pinhão um meio de vida. Araucária era árvore de se cortar, não de se colher. E, por conta disso, era árvore que quase não ficava de pé – quanto mais Pela primeira vez, manter uma araucária em pé é mais vantajoso do que derrubá-la. O corte de araucária foi legalmente proibido no Brasil em 2001. Antes disso, cerca de 100 milhões de pinheiros nativos viraram toras nas serrarias do Sul e Sudeste. Dos 185 mil quilômetros quadrados de floresta, restaram apenas 2%. É o ecossistema mais devastado do país.

   Essas florestas tornaram-se, principalmente, lavouras ou pastagem para gado. No município de Painel, Santa Catarina, a história foi outra. A topografia acidentada emperrou a agricultura e a pecuária intensiva e favoreceu a recuperação da vegetação original. A concentração de araucárias na serra catarinense impulsionou uma nova forma de renda: a venda do pinhão para a culinária. 

Painel, Santa Catarina.
   No entanto, a semente da araucária como produto rentável ainda é uma novidade para a maios parte dos produtores rurais da região. Embora seja parte da dieta local desde quando a região era habitada apenas por índios Kaingang e Xokleng, o pinhão ganhou valor comercial há pouco menos de duas décadas. Em municípios como Lages, São Joaquim e Urupema, ele ainda é uma atividade complementar, em grande parte executada por meeiros contratados na periferia das cidades.

   É o contrário do que acontece em Painel, onde se criou “uma situação única”, na definição do agrônomo João Antenor Pereira, responsável pelo escritório local da Epagri. “Aqui quem tira o pinhão é o próprio dono das terras. E a renda, às vezes, é até superior à da pecuária familiar”. Hoje Painel extrai 2.750 toneladas de pinhão por ano, o que equivale a um quinto do total de produção na serra catarinense. Já virou fonte de renda para dezenas de famílias da zona rural, distribuídas em bairros aqui chamados de “comunidades”.

Uma pinha rende, em média, 50% de seu peso: de cada 2 quilos, 1 é de pinhão.
   O grosso da produção é vendido para a Ecoserra, cooperativa sediada em Lages que se encarrega de comercializar os pinhões. Alguns, inclusive, vão parar na merenda escolar de Florianópolis. Cada quilo é comprado do produtor a R$ 1,70, o que já é bem mais do que os 30 centavos que se pagava há cerca de 15 anos. “O pinhão hoje tem valor agroecológico”, explica João Pereira, da Epagri.

   Isso se deve, em parte, a um trabalho de divulgação da Ecoserra, que culminou com a inclusão do pinhão catarinense na Arca do Gosto, uma lista elaborada pela Slow Food, fundação italiana que prega a ecogastronomia, com o objetivo de salvaguardar alimentos ameaçados de extinção ao redor do mundo. 

O pinhão catarinense foi incluído na Arca do Gosto, uma lista de alimentos ameaçados de extinção ao redor do mundo.
   Do que sobra de pinhão, uma parte fica no local, para consumo próprio. Há séculos os caboclos da região serrana fazem da semente da araucária sua principal fonte de amido. É costume, por exemplo, sair de casa para o trabalho na coleta levando uma paçoca de pinhão, no qual o fruto é cozido, moído e misturado com carnes.

Conheça aqui alguns pratos que podem ser preparados com o pinhão.

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